domingo, 29 de maio de 2011

Os desafinados

Infelizmente, o filme é uma decepção completa, sobretudo se considerarmos que desperdiçaram um belo elenco, um tema bom, provavelmente um orçamento compatível, não encontrando enredo à altura. O filme é constrangedor e uma oportunidade perdida.
Cai brutalmente de ritmo quando deixa para segundo plano a carreira do simpático e bem humorado grupo musical e o acertado tom irreverente do início e investe em dramas pessoais sem a competência necessária, aventurando-se depois num drama político repleto de clichês.
Um grande equívoco, também, é o clima francês do apartamento de Glória, em plena Nova York, ainda que se possa justificar pelo fato de ela apresentar uma inclinação française e ter se refugiado em Paris tempos depois. Por que Nova York não pode ser Nova York? Será possível que afora o clube de jazz não poderiam mesclar traços da vida
na big apple com personagens tipicamente brasileiros? Os únicos fatores que identificam os personagens como brasileiros são a língua e a música (ah, claro a saudade da rabada e da caipirinha, meu Deus!). Figurino, cabelo, vinho, banho, cigarro, tudo em clima bem parisiense. Nem parece que o diretor é brasileiro, tantas são as referências francesas.
Os conflitos praticamente inexistem e quando aparecem são tratados preguiçosamente. Um exemplo é quando Glória descobre a existência de Luiza, que não merecia um personagem tão apagado, esposa plácida de Joaquim, grávida esperando-o no Rio de Janeiro. O espectador desavisado já tinha se esquecido dela e provavelmente o próprio marido também. Uma cena curta de Joaquim conversando com um dos músicos da banda resolveria a questão...
Uma tendência irritante do cinema de hoje é enfeiar atores lindos, como Rodrigo e Alessandra. Só Claudia Abreu se salva. Santoro passa mais da metade do filme curvado. A lista de equívocos é imensa. Bom, tem que ter cenas de nudez e sexo e elas vêm, quase sempre gratuitas como a cena da banheira, mas isso a gente já sabe. Lá pela metade do filme, tentam transformá-lo em drama político, aproveitando a história de Tenório Jr, músico desaparecido em Buenos Aires quando acompanhava Vinicius e Toquinho em temporada na cidade, para dar um fim ao pianista Joaquim (uma saída fácil para o fraco triângulo amoroso). Os roteiristas fizeram um 3 em 1, uma colagem mal feita de vários filmes possíveis.
Uma pena, eu amo Bossa Nova...

Para uma noite fria e chuvosa, além de algumas belas melodias ao fundo, valeu o saboroso fondue de carne e o vinho francês Cave de Ladac.

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