domingo, 15 de maio de 2011
Minhas mães e meu pai
Ao contar a história do casamento de duas mulheres, brilhantemente interpretadas por Julianne Moore e Annette Bening, e a relação delas com os filhos adolescentes, o filme já se apresenta com um quê de originalidade. O roteiro capta a essência das famílias modernas – héteros ou homos – e, acima de tudo, conta uma belíssima história sobre relacionamentos humanos, em suas mais diversas instâncias, mas com uma roupagem moderna e atual.
O enredo, na verdade, vai além da relação do casal com seus filhos. Os irmãos Joni e Laser estão na fase de descobertas – principalmente sobre quem são eles próprios. Aos 15 anos de idade, o rapaz tem vontade de saber quem é seu pai biológico, mas para isso precisa da ajuda de sua irmã, que já completou 18 anos. Dessa forma, a primeira questão atual é apresentada: a geração da inseminação artificial e a curiosidade natural dessas pessoas, independente de quem os criou, em saber sobre quem são seus pais biológicos.
É assim que Mark Ruffalo, interpretando Paul, surge na história. Pai das crianças, ele aceita conhecê-las e rapidamente estabelece um vínculo com elas e com as mães. Minhas Mães e Meu Pai mergulha, a partir desse novo olhar, nos dramas interiores de suas personagens, mas, para fazer isso, o roteiro de Stuart Blumberg e Lisa Cholodenko, também diretora, desenvolve uma deliciosa e comovente comédia dramática de costumes sobre a sociedade moderna.
O longa dá profundidade a todos os seus personagens. Laser é um menino que ainda está descobrindo a vida e, como típico adolescente, acredita não precisar ouvir conselhos de ninguém, pois pressupõe saber o que é melhor para ele. A relação do menino com seu melhor amigo e o caminho que a amizade deles toma mostra o amadurecimento natural, e totalmente crível, de um menino que cresce com sua própria vivência, com o conselho dos mais velhos, com as experiências que vivencia dentro de sua própria casa e com a iminente partida de sua irmã para a faculdade.
Joni, por sua vez, está cansada do clima tumultuado que invadiu sua casa após o surgimento de Paul. A garota já se julga adulta e não suporta ver a relação que se desenvolve entre suas mães com a crise momentânea que atravessam no relacionamento. Querendo a liberdade, a garota se depara com o medo da solidão e com a perda de seu porto-seguro com a nova fase de sua vida.
O casal Jules e Nic encara a crise no relacionamento aparentemente invejável após o surgimento de Paul, que consegue, mesmo sem querer, abalar a harmonia da casa. Com o relacionamento passando por uma fase conturbada, as duas vivem dias após dia pensando como o fator novo pode alterar suas crenças de família ideal.
A composição das personagens é perfeita.
Ruffalo, ao interpretar o self-made man Paul, fecha a trinca de grandes composições do elenco adulto. Ele dá vida a um homem inseguro, que amadurece com o aparecimento de seus filhos e, com isso, começa a perceber que o que lhe falta é a segurança familiar. Solitário, Paul quer formar sua própria família, sem perceber, às vezes, que seus filhos não podem ser parte de seu novo objetivo de vida.
Um ágil roteiro que escancara os problemas da vida moderna e as novas relações consequentes dela, mas sem apontar como problemática para as crianças a falta de uma família clássica. A habilidade em fazer com que o público aceite aquele casal, por exemplo, é notável. Os problemas daquela família poderiam bater à porta de qualquer outra, e isso fica provado no inesquecível momento em que a personagem de Julianne Moore faz um belíssimo discurso, em uma cena na qual ambas as atrizes estão impecáveis. “Casamento é difícil. Tem a fase que você para de enxergar a pessoa que está com você e passa a ver nela uma projeção de suas próprias imperfeições. Nessa hora, em vez de sentar e conversar, tomamos atitudes erradas”.
Minhas Mães e Meu Pai é assim, moderno, com diálogos verdadeiros e marcantes. Lisa Cholodenko concebe ainda uma lindíssima cena final, que reafirma as inseguranças de Josi, o amadurecimento de Laser e o crescimento interior das mães. E é por isso que o título em inglês do longa é, em tradução literal, “as crianças estão todas bem”. Elas estão, na realidade, vivendo situações comuns para suas idades e aprendendo com a boa educação que receberam. Quem não estava realmente bem, e que precisava atravessar novas experiências para retomar o caminho, era o casal vivido por Moore e Bening.
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