domingo, 26 de junho de 2011

A suprema felicidade

A trama começa em 1945, com o fim da Segunda Guerra, e volta e avança no tempo para mostrar como os pais de Paulo se conheceram e anos depois se distanciaram. Segue Paulo no começo do colégio católico, depois com 19 anos, encarando suas primeiras prostitutas, bebendo e cantando à beira-mar. O avô de Paulo a tudo assiste com a sabedoria de quem parece sempre ter sido velho, ainda que com espírito jovem.

A epígrafe que abre o filme, os versos de Drummond "As coisas findas / muito mais que lindas / essas ficarão", dão o exato tom da amarração que Jabor tenta dar ao seu vaivém. Não é apenas a nostalgia de um Rio de Janeiro mais inocente (e sem trânsito), mas também de uma estética hoje lembrada por poucos. A Suprema Felicidade tem momentos de chanchada (os tipos caricatos na rua da casa de Paulo), de musical da Atlântida (a marchinha também na rua), de Cinema Novo (o neorrealismo meio operístico do bordel).
Tenho que pontuar que a figuração é horrível e a cena da morte da prostituta é uma das piores que já vi (que atriz é aquela?), mas o avô, Marco Nanini, tenta trazer para os dias profissionalizados de hoje o humor despojado dos anos 70.
Se A Suprema Felicidade está longe de ser um Amarcord, pelo menos divide com o filme de Federico Fellini esse ar de testamento. 

Evidentemente, saudosismo não enche a barriga de ninguém. O filme se esforça em ver em Paulo um protagonista digno de uma história de formação, mas se desvia para falar do amigo gay, da dor da mãe, dos devaneios do avô. No fim, o arco de Paulo é típico do imaginário de quem cresceu na metade do século: seu platonismo é tirar a puta da zona. O uso de filtros "velhos" e a câmera truncada de Jabor, com seus planos-detalhes sem fluência (o seio no eclipse, a macumba mostrada duas vezes), pioram a sensação de museologia.
Jabor filma como se estivesse nos apresentando o mundo pela primeira vez. Fosse com um olhar de cineasta, e não com o discurso pronto de comentarista, talvez tivesse mais sucesso.
Saudade de uma época de maior inocência, saudade de um cinema antigo, ou simplesmente saudade de seu avô, o filme, autobiográfico ou não, deve ter ao menos deixado Jabor alegre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário