O que eu desejo ainda não tem nome.
E se me achar esquisito, respeite também.
Até eu fui obrigado a me respeitar.
Minha força está na solidão.
Não tenho medo nem de chuvas tempestivas,
Nem de grandes ventanias soltas,
Pois eu também sou o escuro da noite.
É curioso como não sei dizer quem sou.
Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer.
Sobretudo tenho medo de dizer
Porque no momento em que tento falar
Não só não exprimo o que senti,
Como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.
Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender,
Viver ultrapassa qualquer entendimento.
... estou procurando, estou procurando.
Estou tentando me entender.
Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem,
Mas não quero ficar com o que vivi.
Não sei o que fazer do que vivi,
Tenho medo dessa desorganização profunda.
Não quero ter a terrível limitação
De viver apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada.
Gosto do modo carinhoso do inacabado, do malfeito,
Daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo
E cai sem graça no chão.
(Clarice Lispector)
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