sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
2010 - 2011
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Sempre ao seu lado
Acredito que todo mundo que vai ao cinema deve ter ouvido a frase "o cachorro morre no final", quando alguém queria fazer uma gracinha sobre o filme Marley e Eu. Bom, sem querer fazer piada, mas pensando em preparar o espírito de quem está escolhendo o que assistir já adianto que Sempre ao seu Lado também vai te fazer chorar. Muito! E não é porque o cachorro morre no final. É bem antes que as primeiras lágrimas vão começar a sorrateiramente se alojar nos cantos dos olhos, para depois correr em cascata. Mas o filme também vai te fazer sorrir e refletir sobre o nosso dia-a-dia e as relações que realmente interessam.
O longa é uma adaptação de uma história real, que aconteceu no Japão no início do século. Hachiko é o nome de um cachorro da raça akita que ficou famoso em todo o país depois que apareceu em reportagens de jornais que contavam sua história de lealdade ao seu dono, um professor da Universidade de Tóquio. Todos os dias Hachiko acompanhava seu amigo até a estação de trem e estava lá quando ele voltava para casa.
A história deste cachorro virou uma lenda no Japão e foi usada em escolas e casas para ensinar às crianças a importância da lealdade entre amigos. Serviu também para despertar no país uma onda de criações de akitas, raça pura japonesa que estava cada vez menos popular. Há hoje na estação de Shibuya uma estátua de Hachiko, no lugar onde ele ficava esperando seu dono voltar.
Na versão estadunidense da história, Hachiko continua sendo um akita. Ele é achado quando ainda é um filhote em uma estação na periferia de Nova York pelo professor universitário Parker Wilson, que o leva para casa. No início, sua esposa se recusa a adotar o novo morador, mas é tocada pela cativante relação entre os dois.
Um personagem que faz a ponte entre as duas versões explicando um pouco da mentalidade e crenças japonesas é o também é um professor universitário, Ken. Ele explica ao amigo que talvez não tenha sido ele quem achou Hachiko, mas sim que o cão o escolheu como seu dono. É ele também que explica que "hachi" é o numeral japonês para oito, um número especial, que simboliza a ligação entre os planos terrenos e espirituais.
A direção do sueco Lasse Hällstrom carrega no drama, incorporando elementos tipicamente ocidentais que certamente não estiveram na versão japonesa do filme,Hachiko Monogatari, de 1987. É o caso da brincadeira de pegar a bolinha, que Ken explica ser algo completamente sem sentido para Hachi. "Cachorros japoneses não pegam a bolinha apenas para agradar seu dono ou ganhar um biscoito", explica Ken em um prenúncio para uma das cenas mais emocionantes do filme. Nessa hora, pode deixar o jeito machão de lado e pegar aquele lenço de papel que estava no bolso desde Marley e Eu. Acredite, você vai precisar. E se ao acender das luzes vierem te perguntar alguma coisa, despiste dizendo que você é alérgico a cachorros.
Feliz Ano Novo
A gente nasce, cresce,
envelhece e morre.
Pra não morrer,
é só amarrar o tempo no poste.
Eis a ciência da poesia:
amarrar o tempo no poste!
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Para o Ano Novo
Viajar até cansar. Quero sair pelo mundo. Quero fins de semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais. Sair mais. Quero um trabalho novo. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. Quero morar sozinho, quero ter momentos de paz. Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta. Ir mais vezes ao parque. Quero ser feliz, quero sossego, quero outra tatuagem. Quero me olhar mais. Cortar mais os cabelos. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso me concentrar mais, delirar mais.
Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás. Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa. Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais. Experimentar mais. Quero menos “mas”. Quero não sentir tanta saudade. Quero mais e tudo o mais.
“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha".
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Receita de Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
domingo, 26 de dezembro de 2010
Mais ou menos
A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.
A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...
TUDO BEM!
O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...
é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos.
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.
(Chico Xavier)
sábado, 25 de dezembro de 2010
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Véspera de Natal
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Greve?!?
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Compras de Natal
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
Eu e você sempre
Logo, logo, assim que puder, vou telefonar
Por enquanto tá doendo
E quando a saudade, quiser me deixar cantar
Vão saber que andei sofrendo
E agora longe de mim, você possa enfim
Ter felicidade
Nem que faça um tempo ruim, não se sinta assim
Só pela metade
Ontem demorei pra dormir, tava assim, sei lá,
Meio passional por dentro
Se eu tivesse o dom de fugir pra qualquer lugar,
Tinha feito um pé de vento
Sem pensar no que aconteceu, nada, nada é meu,
Nem o pensamento
Por falar em nada que é meu,
Encontrei o anel que você esqueceu
Aí foi que o barraco desabou,
Nessa que meu barco se perdeu,
Nele está gravado só você e eu
sábado, 18 de dezembro de 2010
Sexta e sábado...
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Boas Festas!!!
Sorria
Sempre nos momentos
de tristeza e angústia
Para que a alma não se acostume ao sofrimento,
não se cale em desespero,
e não adormeça eternamente.
Sorria,
Para que a vida seja mais bela
Para que o amor seja mais forte e verdadeiro
Para que as flores e tudo mais possam fazer sentido.
Sorria
Sempre que a vida parecer confusa
Para que as luzes possam brilhar,
e para que as respostas e soluções possam surgir,
para os problemas serem mais fáceis de serem resolvidos...
Sorria
Em todos os momentos da vida
Porque o sorriso é um remédio para
todas as dores, e um meio de se chegar
a completa e verdadeira Felicidade!
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Aeroportos e chuva
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
São Paulo
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
O céu está no chão
O céu não cai do alto
É o claro, é a escuridão
O céu que toca o chão
E o céu que vai no alto
Dois lados deram as mãos
Como eu fiz também
Só pra poder conhecer
O que a voz da vida vem dizer
Que os braços sentem
E os olhos vêem
Que os lábios sejam
Dois rios inteiros
Sem direção
O sol é o pé e a mão
O sol é a mãe e o pai
Dissolve a escuridão
O sol se põe se vai
E após se pôr
O sol renasce no Japão
Eu vi também
Só pra poder entender
Na voz a vida ouvi dizer
domingo, 12 de dezembro de 2010
Domingo delicioso!
Alguns trazem dores recentes, outros trazem uma dor de estimação, mas o certo é que grande parte desses rostos anônimos têm um amor mal resolvido, uma paixão que não se evaporou completamente, mesmo que já estejam em outra relação.
Por que isso acontece? Eu tenho uma teoria, ainda que eu seja tudo, menos teórica no assunto. Acho que as pessoas não gastam seu amor. Isso mesmo. Os amores que ficam nos assombrando não foram amores consumidos até o fim.
Você sabe, o amor acaba.
É mentira dizer que não. Uns acabam cedo, outros levam 10 ou 20 anos para terminar, talvez até mais. Mas um dia acaba e se transforma em outra coisa: amizade, parceria, parentesco, e essa transição não é dolorida se o amor foi devorado até a rapa.
Dor-de-cotovelo é quando o amor é interrompido antes que se esgote. O amor tem que ser vivenciado. Platonismo funciona em novela, mas na vida real demanda muita energia, sem falar do tempo que ninguém tem para esperar. E tem que ser vivido em sua totalidade. É preciso passar por todas as etapas: atração-paixão-amor-convivência-amizade-tédio-fim.
Este trajeto do amor pode ser percorrido em algumas semanas ou durar muitos anos, mas é importante que transcorra de ponta a ponta, senão sobra lugar para fantasias, idealizações, enfim, tudo aquilo que nos empaca a vida e nos impede de estar aberto para novos amores.
Se o amor foi interrompido sem ter atingido o fundo do pote, ficamos imaginando as múltiplas possibilidades de continuidade, tudo o que a gente poderia ter dito e não disse, feito e não fez.
Gaste seu amor. Usufrua-o até o fim. Enfrente os bons e os maus momentos, passe por tudo que tiver que passar, não se economize. Sinta todos os sabores que o amor tem, desde o adocicado do início até o amargo do fim, mas não saia da história na metade. Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo, fechando o próprio ciclo.
Isso é que libera a gente para ser feliz de novo.
400 contra 1
Um dilema típico do cinema brasileiro, o de fazer entretenimento para a massa ou cumprir as famigeradas contrapartidas sociais com temáticas "importantes", resulta às vezes em esquizofrenias como 400 Contra 1.
A trama se passa entre 1971 e 1980, respectivamente, os anos em que o futuro CV começou a se organizar no presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e em que realizou os assaltos a banco que tornaram a facção conhecida no noticiário. Silva Lima, o Professor, interpretado por Daniel de Oliveira, é quem articula as bases do que o CV transformaria em lema: Paz (não trazer diferenças da rua para a prisão), Justiça (olho por olho, dente por dente) e Liberdade (a fuga como objetivo principal).
O filme aproveita um período fundamental da história criminal do país - os anos em que os futuros CVs dividem espaço com presos políticos na Ilha Grande durante da ditadura - para antepor a "ética" dos presos comuns à falta de escrúpulos da repressão. Se filmes como Quase Dois Irmãos recorrem ao episódio para fazer uma reflexão sobre a sociedade brasileira, 400 Contra 1 se contenta em um usá-lo para heroificar o CV.
Até aí, nada de anormal. Dos gângsteres da Era da Lei Seca aos Zé Pequenos recentes, o cinema sempre se especializou em glamourizar o vilão. A confusão que 400 Contra 1 faz - a partir daquele desejo de prestar contrapartidas com todo mundo - é misturar a catarse do crime com o discurso político.
Mal comparando, é como se os Onze Homens de George Clooney gozassem da riqueza usurpada de Las Vegas em protesto contra o capitalismo.
A trilha sonora de 400 Contra 1 organizada por Max de Castro está cheia de hinos suingados da black music nacional, para exaltar a autoestima do negro. Os figurinos enchem os personagens de ternos bem cortados e óculos escuros para tornar o assalto uma coisa mais estilosa. A montagem exagera nos letreiros didáticos e nas elipses temporais para acelerar a ação, como se o lema do CV, na verdade, fosse o rebelde "viva rápido e morra jovem".
Existe, enfim, todo um aparelho com a intenção de transformar os pés-de-chinelo da Ilha Grande em mártires nível Tony Montana, o CV numa gangue malandra de uma espécie de West Side Story carioca, que entre uma discussão engajada e outra aproveita para dar uns beijos na mulher do carcereiro e metralhar o retrato de Figueiredo.
Aliás, a cena em que Professor dá mais uma lição programática aos outros detentos, inserida no meio de outra cena (em que ele transa com a loira), exemplifica muito bem o verdadeiro discurso de 400 Contra 1: as conquistas ditas coletivas dos bandidos são, no fundo, vitórias pessoais (ou a cena não terminaria com o gozo do herói), e o que é vendido como filosofia na verdade é só vaidade.
Lamentável!
sábado, 11 de dezembro de 2010
Organiza o Natal
Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.
Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.
A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.
A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.
Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.
O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.
Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.
A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.
O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.
E será Natal para sempre.
Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade.
Assim caminha a humanidade
Ainda vai levar um tempo
Pra fechar
O que feriu por dentro
Natural que seja assim
Tanto pra você
Quanto pra mim...
Ainda leva uma cara
Pra gente poder dar risada
Assim caminha a humanidade
Com passos de formiga
E sem vontade...
Não vou dizer que foi ruim
Também não foi tão bom assim
Não imagine que te quero mal
Apenas não te quero mais...
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Saudade
E a saudade atormentar,
Os teus dias tristonhos vazios.
Sorri quando tudo terminar,
Quando nada mais restar,
Do teu sonho encantador.
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos.
Sorri, vai mentindo a sua dor.
E ao notar que tu sorris,
Todo mundo irá supor
Que és feliz.
Dodói
Chico Xavier
No inicio da década de 70 um programa entrou para a história da TV brasileira. Tratava-se de Pinga Fogo da extinta TV Tupi. Transmitido ao vivo, algo inédito para a época, tinha duração prevista de 60 minutos. Mas o convidado da edição de 28 de julho de 1971 fez o programa se estender por mais de 3 horas. Estava ali presente o médium, cristão e espírita Chico Xavier, sendo sabatinado por jornalistas que tentavam desmascará-lo e apontá-lo como fraude. O carisma e a perspicácia de Chico em responder as perguntas, além de efetuar a primeira psicografia transmitida em rede nacional, ajudaram ainda mais na sua mitificação.
40 anos depois, uma nova obra audiovisual se propõe a humanizar o místico Chico Xavier. E estreou justamente no dia em que ele completaria 100 anos. O filme Chico Xavier se utiliza de trechos reconstituídos do Pinga Fogo como espinha dorsal da trama. Através de flashbacks, trechos da infância em Pedro Leopoldo, no interior de Minas Gerais, da descoberta do dom da psicografia na juventude e a criação da Casa da Prece em Uberaba, todos os momentos chaves da história de Chico são balanceados com seus depoimentos no Pinga Fogo. Além disso, uma trama paralela de um casal que teve seu filho morto e aguarda por uma carta psicografada do garoto pelo médium também auxilia para que a história seja contada de uma forma convincente e sem uma linearidade temporal fixa.
Segundo o diretor, Daniel Filho, o personagem mais polêmico e, consequentemente, mais difícil de ser retratado, foi Emmanuel, o guia espiritual que apenas Chico conseguia ver. Em uma cena cuja câmera sai do topo de uma cachoeira até os ouvidos do médium, literalmente entramos na sua cabeça e passamos a enxergar Emmanuel como ele o via e descrevia: manto branco, sandálias de couro marrom, aparência jovial e séria. As melhores passagens de Chico Xavier são justamente os diálogos de alívio cômico entre ele e seu guia, incluindo uma piada sobre a bizarra peruca que Chico insistia em usar. Se ficam dúvidas sobre a veracidade dessas situações cômicas, durante os créditos finais vemos o próprio Chico dando voz às engraçadas histórias.
A caracterização do protagonista é outro atrativo. Interpretado por 3 atores, o menino Matheus Souza na infância, Ângelo Antônio na juventude e Nelson Xavierna maturidade, Nelson certamente é quem mais se aproxima do original. A semelhança física do ator com o médium já impressionava a todos quando Chico ainda era vivo. Agnóstico convicto e receoso do convite, Nelson acabou aceitando e mergulhando de tal forma na persona de Chico Xavier que até as suas convicções religiosas foram abaladas. Aliás, citando a questão religiosa, quem pensa que verá um filme meramente espírita, se surpreenderá em ver o quanto a mensagem de solidariedade ao próximo do protagonista passa por qualquer tipo de religiosidade.
Chico Xavier se apresenta como uma biografia sincera, sem melodramas, desmistificando o santo e o transformando em homem. Arrastar multidões em seu entorno era a regra quando Chico era vivo, mas todos os procuravam justamente para ouvir as vozes dos mortos. Sua própria morte parecia algo impossível, porém ele mesmo afirmava que iria deixar a terra justamente no dia em que todos os brasileiros estivessem muito felizes. Chico desencarnou em 30 de junho de 2002, quando o Brasil inteiro comemorava o penta-campeonato de futebol.
O filme é muito bem produzido, mas já valeria apenas pela mensagem de amor e solidariedade.