Tudo começou com o escritor e roteirista Fran Striker, que em 1936 criou para uma emissora de rádio o personagem Besouro Verde. O sucesso foi tanto que o seriado permaneceu no ar até 1952. O herói foi adaptado para seriados de cinema nos anos 40, para série de TV em 1966, virou um longa-metragem produzido em Hong Kong em 1994 e até um curta francês em 2004. Entre todas as adaptações, certamente a mais famosa foi a da televisão. Foram 26 episódios produzidos pela Fox entre 1966 e 67. Foi pela porta do Besouro Verde da Fox que Bruce Lee entrou no mercado americano, interpretando o fiel escudeiro Kato. O papel principal era de Van Williams, que nunca decolou na carreira.
Agora, 65 anos após a sua criação, o Besouro Verde volta aos cinemas. No novo filme, Britt Reid (Seth Rogen, de Pagando Bem que Mal tem?) é um playboy milionário que vive da fortuna acumulada por seu pai, James, um respeitado dono de jornal. Porém, quando James morre repentinamente, Britt percebe que não passa de um sujeito mimado e incapaz. Até para fazer seu café ele depende dos outros. Principalmente de Kato (Jay Chou, ator e cantor popular em Taiwan, estreando no ocidente), misto de mecânico, chofer e mordomo que ele sequer conhecia antes da morte do pai.
Amparado por Kato, Britt decide sair à noite para fazer mais uma de suas molecagens inconsequentes, e sem querer descobre que seu novo amigo/mecânico é perito em artes marciais. Nasce então a ideia: que tal assumir uma identidade secreta e sair por aí bancando os super-heróis? É o que eles fazem.
Esta releitura do antigo herói para as novas gerações opta por um procedimento perigoso: aqui, o Besouro Verde foi transformado num paspalho, numa clara subversão de Gondry ao personagem original. E numa claríssima concessão comercial para tentar atrair um público maior. Não seria uma opção de todo condenável, não fosse por um grave senão: o roteiro não tem gags, piadas, graça nem humor suficientes para transformar o filme numa boa comédia. Nem inventividade para classificá-lo como uma boa produção de super-herói.
Nos minutos finais, talvez numa tentativa de salvar o ritmo do filme, uma interminável e inócua sequência de ação e correria busca preencher os olhos e ouvidos do público. O Besouro Verde fica num meio termo perigoso, num limbo de qualidade insuficiente que acaba desagradando tanto o novo público que busca por diversão, quando o antigo que gostaria de rever seu herói numa nova roupagem.
A própria presença de Cameron Diaz no papel feminino principal parece perdida, não destilando sua sensualidade de sempre, tampouco desenvolvendo um suposto lado feminista que a personagem acena, a princípio, mas que não tem espaço dentro da trama para desenvolver. Trata-se, literalmente, de uma presença meramente decorativa.
Até o tema musical do seriado, baseado na vibrante peça clássica O Vôo da Abelha, de Rimsky-Korsakov, é subaproveitado no longa, durando rapidíssimos segundos já nos créditos finais. Salvam-se apenas o caprichado nível de produção e dos efeitos, e o vilão vivido pelo austríaco Christoph Waltz, destaque como o oficial nazista de Bastardos Inglórios.
Bem, nunca gostei do personagem Besouro Verde e, como não esperava muito do filme, confesso que me divertiu bastante.
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