Hoje em dia, quando as plateias mais jovens conhecem vampiros e lobisomens como rapazes companheiros e amorosos, é reconfortante assistir ao retorno à velha forma de pelo menos uma dessas criaturas nos cinemas. A refilmagem de O Lobisomem, de 1941 que marcou época junto aos outros grandes, segue à risca a cartilha da licantropia.
A trama reinventa situações mas aproveita personagens e o cenário do filme original. Na Inglaterra Vitoriana, o famoso ator dos palcos Larry Talbot retorna ao castelo de seu pai, no País de Gales, em busca de seu irmão desaparecido. Ele responde ao apelo da cunhada, desesperada por notícias do noivo. Ao terminar sua viagem, porém, ele descobre que chegou tarde - e as circunstâncias que cercam a morte estão cheias de mistério. Larry decide então investigar o caso, mas depara-se com uma antiga maldição em curso, algo que envolve uma mítica e aterradora fera.
O roteiro dá mais profundidade à história original, estabelecendo relações entre a maldição e o passado da família Talbot. O diretor também atualiza o tipo de horror da produção: o que assustava platéias em 1940 não assusta mais hoje em dia. E surpreendentemente o faz com homenagens explícitas ao grande ciclo do cinema de terror, com uma mistura empolgante de cenas clássicas, sequências estilosas modernas, alguns sustos gratuitos e uma boa dose degore.
Como não poderia deixar de ser, porém, a produção mantém a batida fórmula do interesse romântico - Emily Blunt está lá apenas para que o filme tenha alguma identificação com o público feminino. Ao menos a moça não atrapalha as intenções dos envolvidos: repousar o filme nos talentos de Benicio del Toro e Anthony Hopkins. Todas as interações entre os dois são extremamente carregadas, ora de velada preocupação, ora de tensão descarada. Ver a dupla trabalhar seria a melhor parte do suspense não fossem as aparições do monstro do título. O resultado é competente. O monstro é especialmente fascinante. Anda sobre as pernas, como um homem, e corre feito um lobo. Seu rosto não tem o focinho alongado, consagrado no gênero na década de 1980 e ele passa o tempo todo vestindo as roupas de Talbot, num sinistro amálgama de primata e lupino que remete ao original de 1941.
Em tempos em que lobisomens adolescentes não conseguem passar uma cena sequer sem tirar a camisa para exibir seus abdômens tanquinho, um lobisomem vestido como cavalheiro vitoriano e agindo com a ferocidade e selvageria esperadas de uma criatura desse tipo - eviscerando, decapitando e devorando suas vítimas - é algo mais que benvindo nas telas.
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